Pesquisa personalizada Google

Istoé Dinheiro

O contra-ataque da Record

SDE abre chance de disputa pela transmissão do futebol brasileiro e emissora ganha força para enfrentar de igual para igual a rival Globo



O CAMPO DE JOGO JÁ ESTÁ DEFINIDO: A sede do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em Brasília. E os dois times estão prontos para duelar. Lá, Globo e Record, as duas maiores emissoras de televisão do País, travarão um confronto decisivo em torno dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol. Trata-se, hoje, do principal produto na grade da rede carioca - e, portanto, um trunfo fundamental numa disputa pela liderança geral nos índices de audiência. Mas, graças a um parecer recém-emitido pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), a Record acredita, agora, que pode finalmente vencer a tradicional rival. No documento, a SDE acolhe sugestões da rede paulista ampliando as possibilidades de competição pelo futebol, hoje leoninamente controlado pela Globo. Se o Cade acatar o parecer, a bola volta ao campo da concorrência.


Foi uma primeira vitória da Record. E veio no momento certo. Na quinta-feira 8 a Globo assegurou por mais três anos o monopólio da transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol. Os direitos de exibição das partidas das temporadas 2009, 2010 e 2011 foram adquiridos por R$ 660 milhões, em assembléia realizada em São Paulo na sede do Clube dos Treze, entidade que representa as principais equipes do País. O acordo prevê ainda um bônus para os times, se a audiência média do campeonato subir. Cada ponto a mais no Ibope vale para os clubes um bônus de R$ 1 milhão. O valor é o maior já pago no País. Mas toma de goleada dos contratos assinados entre as grandes equipes européias e as emissoras locais de TV para a transmissão de seus campeonatos nacionais. Isso porque, graças a um detalhe contratual que favorece a emissora carioca, a concorrência praticamente não tem chance de participar da disputa pela compra dos direitos.

O contra-ataque da Record começou a ser armado no ano passado, quando a segunda emissora do País em audiência enviou à SDE sugestões de mudanças na comercialização dos direitos de transmissão pela TV do campeonato brasileiro. Na semana passada, a SDE enviou seu parecer, já com as propostas da Record, para análise do Cade. O órgão deve avaliar o documento em 30 dias. Se aceitar as sugestões da Record, o novo contrato entre a Globo e o Clube dos Treze deverá ser revisto. "Caso isso de fato aconteça, será uma vitória não da Record, mas do torcedor brasileiro", diz Alexandre Raposo, presidente da Record. A Globo afirma que só vai se manifestar após analisar o relatório.
"Se o Cade aceitar o parecer da SDE, será uma vitória não da Record, mas do torcedor brasileiro "
Alexandre Raposo, presidente da Record

A proposta mais importante é o fim da "cláusula de preferência" que consta no contrato assinado entre a Globo e o Clube dos Treze - ou "cláusula anti-Record", como foi apelidada sarcasticamente pelo mercado. Ela é simples, mas garante o monopólio. Diz que, toda vez que a concorrência é aberta, a detentora atual dos direitos (a Globo) pode cobrir a oferta da rival. Funciona assim: toda vez que o Clube dos Treze abrir para o mercado a comercialização dos direitos, ele deve informar à Globo o valor das propostas que recebeu. De posse dessa informação, a emissora carioca fica com os direitos se oferecer um valor idêntico ao da concorrência. Num certo sentido, é como se fosse uma licitação com cartas marcadas. "Isso faz com que seja praticamente impossível para as outras emissoras comprar os direitos dos jogos", diz Raposo. "É aviltante." Se tal cláusula deixasse de existir, todas as emissoras levariam suas propostas, secretamente, para o Clube dos Treze. Quem estivesse disposto a pagar mais compraria o pacote com os jogos. O Clube dos Treze diz que a concorrência pública para as temporadas 2009, 2010 e 2011 foi aberta em novembro do ano passado e todas as emissoras foram convidadas a participar, mas apenas a Globo apresentou proposta. Raposo alega que recusou- se a entrar na disputa justamente por não concordar com as regras do jogo. "Seria uma incoerência da Record se compactuasse com esse sistema", afirma.

O contra-ataque da Record

SDE abre chance de disputa pela transmissão do futebol brasileiro e emissora ganha força para enfrentar de igual para igual a rival Globo

Outra proposta enviada para a apreciação da SDE é um modelo que obriga os clubes a negociarem dois pacotes para a TV aberta: um mais atrativo, com jogos às quartas e domingos, e o segundo com partidas às quintas e aos sábados. Uma única emissora teria o direito de comprar os dois pacotes ou eles poderiam ser adquiridos separadamente, entre dois concorrentes. Hoje isso é impossível. Por que razão? A Globo teme que uma rival compre o pacote com partidas às quintas e sábados, dias em que ela normalmente não transmite futebol. Se isso acontecesse, a emissora carioca teria um concorrente de peso para suas atrações. Se a Record eventualmente transmitisse, em qualquer desses dias, jogos de Corinthians ou Flamengo, é fácil imaginar os prejuízos que ela poderia acarretar ao Ibope da líder.

A disputa entre grandes emissoras de TV para transmitir partidas de futebol é algo positivo tanto para os torcedores que vêem os jogos pela televisão quanto para os clubes. Os torcedores teriam mais opções de escolha e não seriam obrigados a aceitar, de maneira impositiva, o monopólio de uma rede. Para os clubes, a rivalidade entre os canais de televisão poderia resultar em benefícios financeiros. Por si só, a concorrência transparente faria com que as emissoras pagassem mais para ter o direito de exibir os jogos. O problema é que não tem sido assim. Também na quinta-feira 8, a Globo comprou o uso da marca Clube dos Treze por R$ 18 milhões. Com isso, a emissora passa a ter o direito de usar o nome Clube dos Treze em ações de marketing. E seu domínio sobre o futebol brasileiro tornase ainda maior.



Fonte: http://www.terra.com.br/istoedinheiro/

0 comentários:

 
© 2007 Template feito por Templates para Você