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Sobre pressões sociais e extremos

Tenho abordado em artigos recentes a desorganização da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que essa desorganização constrói uma paralisia inexplicável e destrói um senso social obrigatório. Basta olhar ao redor que a gente se depara com a desordem dos valores, com a banalização da corrupção e do cinismo, ao mesmo tempo em que tudo isso parece tão natural.


A propósito, nesta semana assisti à posse do ministro Gilmar Mendes na presidência do Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Ele tocou duramente em alguns pontos, posicionando a sociedade, o Estado e a justiça. Criticou a violência do Estado via dos seus mecanismos repressivos, lembrando a impunidade dos chamados movimentos sociais, e a judicialização de tudo. Quaisquer conflitos entre pessoas já não se resolvem mais entre pessoas. Acabam na justiça, numa transferência crescente das relações humanas. De outro lado, o Ministério Público agindo como um braço particular da justiça, validando operações policiais criadas pelo braço armado do Estado, numa vigilância exagerada sobre a vida particular dos cidadãos.



De fato, hoje quase todos nós estamos sob vigilância policial das polícias estaduais, da polícia federal, do Ministério Público, da Agência Brasileira de Inteligência - Abin. Parodiando o cantor Luiz Gonzaga: “qualquer um que tem mais de um vintém” está sendo monitorado e gravado nas suas conversas particulares. Se der azar de receber ou de dar um telefonema para alguém monitorado, cai na rede também, e na prisão será levado algemado para uma cela e terá que explicar coisas sobre as quais nunca tenha ouvido falar.



A sociedade está muito conflitada nos seus valores básicos, como família, casamento, filhos, fé, trabalho, futuro, educação, saúde, segurança, e até nas perspectivas individuais. Para lidar com isso, vem criando atalhos. Mas a cada dia tudo isso se transforma em pressões sociais sobre os indivíduos e gera uma arriscada maneira de viver. Depressão é a palavra moderna mais comum na vida das pessoas. Entrou no lugar de outra mais antiga e ideal: a felicidade. Depressão vem de solidão, que vem de pressões sociais e tudo isso acaba em fatos extremos como a morte da menina Isabella, em São Paulo. Isolado, aquele fato é uma barbaridade. Visto no contexto da sociedade atual, ele é apenas um dos extremos da razão humana.



Tem todos os ingredientes modernos: casamento, família, desajustes e a incapacidade de conviver com os conflitos resultantes. A rigor, qualquer um de nós está sujeito a cometer um desatino, face ao peso das pressões sociais que se abatem sobre nós todos os dias da vida. Um dia somado com o outro, a soma de meses e de anos de pressão desata nós da consciência e às vezes gera coisas loucas como aquela.



Acima de todos nós, um Estado fiscalizador cada dia mais eficiente em bisbilhotar as nossas vidas, e cada dia mais ausente de todos nós. Está coberto de razão o ministro Gilmar Mendes.




Autor: ONOFRE RIBEIRO


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