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Rapazes bonitos e moças elegantes na UTI

Rapazes bonitos e moças elegantes na UTI

Teobaldo Witter

Parece estranho escrever de Natal em agosto, mas não é. O ano inicia assim. Acabou o Natal. Estamos em época de férias. Viagens. É Epifania. A luz brilha na escuridão. O ano inicia com luz. Que luz? Que escuridão? Estamos com pressa, pois o tempo chegou. Que tempo?

Acabo de ler uma notícia no jornal de domingo. "Motoristas apressados ignoram a lei de trânsito". No comentário: em 30 minutos de reportagem, o jornalista postado no cruzamento no centro de Cuiabá "flagra" 100 motoristas sem cinto de segurança. Além disso, 15 deles estavam falando ao celular. Outro motorista apressado fura o sinal, em meio aos pedestres. Outro motoqueiro buzina para que pedestres saiam da faixa, porque ele quer passar, mesmo com sinal fechado. Outro veio na contramão para estacionar em local proibido. Todos estão com pressa. Outro motorista apressado tenta trocar a marcha com aparelho celular apoiado entre a cabeça e o ombro direito . Ao dar sinal para entrada na avenida, conversa eufórico com alguém do outro lado da linha (Imprudência e desrespeito. In: Jornal A Gazeta,: Ano XIX, Nº 6082, p 1B, 08.)

A repórter entrevista os agentes de trânsito, atentos. Nem conseguem anotar todas as irregularidades cometidas pelos que têm pressa. Ele a informa sobre porcentagem das infrações: estacionar em locais reservados para deficientes e idosos, não usar cinto de segurança e falar ao celular. Todos têm pressa. O tempo voa? Que tempo?

Visito minha vizinha, Dona Sebastiana, que mora na casa da frente, no outro lado da minha rua. Ela veio do hospital, onde seu marido, seu Lira, de 90 anos de idade, está internado. Fala da alegria da recuperação da saúde de seu Lira, que ainda permanece na Unidade de Tratamento de Intensivo. Mas seu médico lhe informou que pode dar alta em dois dias.

Dona Sebastiana abaixa a cabeça e diz: "A UTI está cheia de rapazes bonitos, entubados, que não se mexem mais". Numa expressão de tristeza, desabafa: "Não tem mais jeito. Eles não voltam mais". Pergunto, e ela diz: " É tudo acidente de carro e moto". A expressão de seu rosto e o olhar no horizonte manifestam indignação. Pressa? O tempo chegou? Que tempo? Que pressa? Que luz? Que escuridão?

Não é o tempo dos motoristas apressados e das UTIs cheias de rapazes bonitos e moças elegantes, esperando o último suspiro. Desejamos outro tempo. Que tempo? O tempo bíblico de Marcos fala do tempo que chegou. Não é o tempo da morte e da pressa, mas o tempo da vida.

A manifestação de Deus acontece em meio aos fatos reais da vida. Jonas fala do tempo da reconciliação. Tempo da mensagem do arrependimento e perdão. Paulo, conforme 1 Coríntios 7, fala do tempo deste mundo, do tempo deste século. Tudo passa. É como se não fosse. "A aparência deste mundo passa". O tempo dos motoristas apressados passa no vazio.

O tempo dos rapazes bonitos e fortes na UTI parou. E parou na escuridão. Dona Sebastiana, enquanto se alegra pela recuperação de seu companheiro com 90 anos de idade, procura por luz para os rapazes bonitos entubados na UTI, no horizonte vazio. A pressa trouxe morte e escuridão. Somos chamados para participar de um outro tempo: do tempo de vida e salvação.

O tempo está próximo. Setembro chega. A primavera vem. Quando setembro chegar, que nos traga brotos novos, isto é, UTIs e sepulturas vazias e condutores de carros e motos compromissados com a vida. E o povo caminhando feliz, sem medo, pelos espaços das cidades, celebrando melhor qualidade de vida.

Teobaldo Witter é pastor, ouvidor Detran/MT e professor universitário. E-mail: twitter@terra.com.br - Jornal A Gazeta Cuiabá

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