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Televisão: uma realidade, não a realidade

Televisão: uma realidade, não a realidade


Vera Lúcia de Moraes

Independente do conteúdo veiculado, já é um consenso que a televisão (como o computador) é capaz de exercer efeitos negativos sobre qualquer indivíduo se usada como principal ponte para o mundo, desestimulando-o a vivenciar as próprias experiências, e fechando seus olhos a outras alternativas de entretenimento e informação. No entanto, sobre crianças (que antes dos 7 anos mal distinguem realidade de fantasia) e adolescentes a exagerada exposição à TV é especialmente nociva. Não é preciso ler as centenas de estudos já publicados a respeito. Qualquer professor sabe o quanto é difícil dialogar e transmitir valores a alunos superexpostos à telinha. Infelizmente, são nossas crianças as que passam mais tempo ligadas em TV no planeta. Segundo pesquisa que abrangeu dez países, são três horas, no mínimo (contra o máximo de duas horas nos demais).


O Brasil foi o pior colocado: 43% das nossas crianças não lêem livros hora alguma; 43% não brincam com amigos; 69% jamais usam computador. Em conseqüência, crescem com problemas de socialização, mal informadas e absorvendo abusivamente uma programação que apela para o consumo, o erotismo precoce e a violência. Referimo-nos à boa parte do conteúdo da TV aberta, pois TVs por assinatura oferecem rica programação cultural. Uma das razões da superexposição é uma falha em nosso sistema educacional: em média, os alunos passam minguadas quatro horas por dia na escola. A TV preenche parte do tempo restante.


A despeito do Plano Nacional de Educação, aprovado em 2001, determinar a expansão da jornada, ainda não se tomou nenhuma medida para que a meta se cumpra. O MEC quer aumentar o número de anos do ensino fundamental, ao invés de implantar o turno integral, o que possibilitaria o desenvolvimento de projetos extracurriculares, práticas esportivas e culturais e contribuiria para um sadio crescimento físico e emocional.


Outra razão para a overdose de TV está no fato dos pais brasileiros não terem muito tempo ou recursos para dedicar-se aos filhos, sobretudo nas classes baixas, que usam a TV como "babá eletrônica". Poucos avaliam a influência da TV sobre um jovem sem valores sólidos. Se ele vive em um ambiente cultural favorável e dialoga com a família e professores sobre o que assiste, não será tão prejudicado. Para o que vive em comunidades subescolarizadas e violentas e não tem a quem pedir esclarecimentos, a incorporação do confuso mundo veiculado pela TV é catastrófica.


A criança testemunha 16 mil assassinatos na telinha até os 18 anos e a exposição repetida resulta em dessensibilização.


Independente de fatores de risco (pobreza, uso de drogas etc.), a quantidade de horas que o adolescente com idade média de 14 anos vê TV está associada à prática de atos violentos: de brigas a homicídios. Entre jovens com idade média de 22 anos, os resultados foram semelhantes: a violência cresce na proporção direta do número de horas frente à TV (mais de três por dia). Foi um dos estudos mais completos sobre o tema e provou que a exposição exagerada à TV, sobretudo quando os sinais captam programas de baixa qualidade, tem efeitos perversos também sobre adultos. Como educadores, pouco podemos fazer por eles. Crianças e adolescentes, porém, estão ao nosso alcance.


Independente do conteúdo veiculado, já é um consenso que a televisão (como o computador) é capaz de exercer efeitos negativos sobre qualquer indivíduo se usada como principal ponte para o mundo, desestimulando-o a vivenciar as próprias experiências (o que mantém a mente em letargia e embota o senso crítico).


Autora: Vera Lúcia de Moraes é professora da Escola Estadual Gunnar Vingren em Várzea Grande e Suelen Dias de Moura é técnica administrativa educacional

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