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Ricardo Noblat deseja boa sorte a Barack Obama

Boa sorte, Obama!

Ricardo Noblat

Um homem aparecia bêbado em um comercial de tv da vodka Orloff nos anos 80. Depois o mesmo homem bebia Orloff e aparecia sóbrio. "Eu sou você amanhã", dizia a mensagem. Os economistas inventaram o "Efeito Orlloff" para comparar a situação do Brasil com a da Argentina. O que os hermanos faziam nós imitávamos. E sempre dava errado -lá e cá.


Se forçarmos a barra, e respeitadas as devidas proporções, dá para dizer que de pouco tempo para cá os Estados Unidos são o Brasil, ontem. Vivemos uma grave crise econômica do final dos anos 90 até os primeiros anos do novo século - eles vivem agora. Só que a deles atinge todo o mundo. O desemprego entre nós foi para as alturas - por lá bate recorde sobre recorde. Para evitar que quebrassem, socorremos os bancos. A salvação dos bancos norte-americanos está estimada em mais de US$ 1 bilhão.


Elegemos um presidente que parecia improvável. Por outras razões, o deles era tanto ou mais. Na ocasião, aqui se disse que a esperança finalmente vencera o medo. Lá se disse algo muito parecido. Para vencer, Lula saiu da esquerda para a direita. Assinou uma carta aos banqueiros. Digamos que para se eleger Obama ficou menos negro. E rompeu com seu pastor. Lula queixou-se da herança maldita do período de Fernando Henrique Cardoso. Por falta de tempo ou delicadeza, Obama ainda não se queixou da herança maldita de Bush.


Lula e Obama venderam sonhos. E eis o paradoxo dos sonhos: para se realizarem é preciso radicalizar a realidade. Foi isso o que Lula descobriu logo de saída. Qual era o Iraque dele? A economia, estúpido! Como não pôde contar com Armínio Fraga na presidência do Banco Central, Lula nomeou para sucedê-lo Henrique Meirelles, eleito deputado federal pelo PSDB, ex-homem forte do Banco de Boston. No Ministério da Fazenda, Palocci foi uma cópia de Pedro Malan. Peraí: Malan nunca quebrou sigilo bancário de caseiro.


Fora o Iraque propriamente dito, qual é o Iraque de Obama? São dois: a economia e a segurança nacional. Os Estados Unidos derretem como o Brasil derretia em 2002. Obama convidou para ser seu vice Joseph Biden, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado. O atual secretário de Defesa poderá permanecer no cargo. Cercou-se de ex-assessores de Bill Clinton. Haverá lugar no novo governo para republicanos moderados.


Ao longo do seu primeiro mandato, a mudança de Lula aplicada à política resultou no fortalecimento de José Sarney, emblema de gente maltratada por ele no passado. Resultou também no mensalão - mas Sarney nada teve a ver com isso. No segundo mandato, Lula aderiu de vez à política franciscana do é dando que se recebe. Montou uma coligação de 16 partidos jamais vista. E sem qualquer constrangimento loteou o governo.


O ex-presidente Clinton tomou dinheiro de doadores de campanhas deixando-os dormir na cama que foi um dia de Abraham Lincoln na Casa Branca. Não tinha gosto por bebidas alcoólicas como Lula. Mas tinha por ex-secretárias e estagiárias. Bush bebeu todas antes de se entregar a Deus e assumir o cargo pela primeira vez. E seu vice Dick Cheney forrou o bolso de dinheiro administrando contratos para a reconstrução do Iraque.


Ao cabo, um sonho é a realidade possível com todas as suas mazelas. A dessacralização do sonho não é inteiramente má se dela emergir uma realidade melhor. Na Era Lula, o Brasil é um exemplo de sucesso econômico. A desigualdade social diminuiu. A eliminação da pobreza entrou em definitivo para a agenda do país. Lula se reelegeu com a maior votação que um presidente já teve. E desfruta de uma popularidade que presidente algum desfrutou.


Por deboche, talvez fosse o caso de inverter o sentido da frase dita por Juracy Magalhães, ministro da Justiça do primeiro governo da ditadura militar de 64. Ela ficaria assim: "O que é bom para o Brasil é bom para os Estados Unidos". God bless you, Obama!


E-mail para esta coluna: noblat@oglobo.com.br

Fonte: BLOG DO NOBLAT: www. oglobo. com. br/ noblat

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